domingo, 16 de outubro de 2011

Apresentação da Programação de Outubro

Durante o segundo semestre de 2011, nós, do coletivo Todas, passamos por um processo de reorganização e fortificação de formações, com o intuito de compreendemos melhor o que o feminismo nos traz como desafio.
Em setembro lançamos a nossa primeira apostila de formação com três textos que procuravam compreender 1) A sociedade em que vivemos; 2) Os paradigmas do movimento feminista; 3) As origens da opressão sexual – patriarcado.
      Dessa forma, durante o mês, nos reunimos algumas vezes para discutimos e pensarmos na articulação do movimento e nas perspectivas críticas diante da realidade.
      Chegamos a outubro com um desafio maior: Compreender como a teoria marxista, que deu origem a revolução de Outubro, têm encarado e contribuído nos estudos e práxis sobre a questão da opressão de gênero.
      É importante lembrar que o estopim da Revolução Russa foi uma greve puxada por mulheres que exigiam paz e pão, devido as condições precárias em que se encontrava a Russa Czarista e ao cenário horripilante de guerra. Mulheres, que levantaram as vozes quando tentaram-nas silenciar e fazer acreditar em sua submissão. Mulheres, sem as quais, a classe trabalhadora não teria corpo, nem subsidio para enfrentar os ataques constantes do regime capitalista e claro, mulheres, que se destacaram fortemente na militância socialista e fizeram história, como Rosa Luxemburgo, Alexandra Kollontai, Clara Zetkin, N. Krupskaia, etc.
Entender o entendimento marxista sobre a opressão de gênero é importante para entendermos os desafios que um movimento feminista que de fato esteja comprometido com os interesses das mulheres trabalhadoras, tem hoje.

Como já dizia C. Drummond:

Ó vida futura, nós te criaremos!

E podemos completar:

sem desigualdades, sem opressões e sem amarras...



Juliana Magalhães



Fortaleza, Outubro de 2011

CALENDÁRIO DE FORMAÇÕES E TEXTOS:

I -  18/10 – TERÇA-FEIRA 11 hrs

Manifesto Comunista – Parte I – 'Burgueses e Proletários' – Karl Marx

Texto que fala um pouco do processo histórico da luta de classes e dá margem à um debate inicial para compreendermos o Feminismo por uma questão de classe.

II – 25/10 – TERÇA-FEIRA 11 hrs

Processo de trabalho e Processo de valorização – Karl Marx

Texto que aborda questões acerca do processo de trabalho e de como, a partir desse processo, há a organização da vida social capitalista. (classes).

III – 26/10 – QUARTA-FEIRA 14 hrs

Cine-clube: Madame Satã, 2002, Direção: Karim Aïnouz

Rio de Janeiro, 1932. No bairro da Lapa vive encarcerado na prisão João Francisco (Lázaro Ramos), artista transformista que sonha em se tornar um grande astro dos palcos. Após deixar o cárcere, João passa a viver com Laurita (Marcélia Cartaxo), prostituta e sua "esposa"; Firmina, a filha de Laurita; Tabu (Flávio Bauraqui), seu cúmplice; Renatinho (Felippe Marques), sem amante e também traidor; e ainda Amador (Emiliano Queiroz), dono do bar Danúbio Azul. É neste ambiente que João Francisco irá se transformar no mito Madame Satã, nome retirado do filme Madame Satã (1932), dirigido por Cecil B. deMille, que João Francisco viu e adorou.

Debate sobre a questão LGBTT e o corte de classe necessário para entendermos quem de fato compõe a grande maioria da comunidade LGBTT

IV – 8/11 – TERÇA-FEIRA 11 hrs
Capítulo 3 do livro: Feminismo: O ponto de vista marxista. - Zuleika Alambert
Discussão: Engels – A origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado
O texto procura estudar a análise de Engels sobre a origem da opressão da mulher.

V – 22/11 – TERÇA-FEIRA 11 hrs
Capítulo 7 do livro: Feminismo: O ponto de vista marxista. - Zuleika Alambert
Discussão: V.I Lênin – Emancipação ou Libertação da Mulher
Debate sobre o ponto de vista de Lênin sobre a chamada questão feminina

VI – 29/11 – TERÇA-FEIRA 11 hrs
Contribuição Crítica ao Movimento LGBTT – Lucas Vidal
Análise crítica sobre a relação do movimento LGBTT com o Marxismo e a sua relação com a luta contra a contradição capital x trabalho.

VII – 30/11 – QUARTA-FEIRA 11 hrs
Roda de Sínteses das disussões ocorridas.


sábado, 24 de setembro de 2011

Cine Clube pela Descriminalização do Aborto!




Dia 28 de setembro é o Dia Mundial de Luta pela Descriminalização do Aborto, neste cine clube procuraremos debater a importância histórica deste dia e a quem a criminalização do aborto realmente atinge. Também vamos conversar sobre a provocação feminista feita no festival "Vulva la Vida" em Salvador-BA.

Os filmes? Serão exibidos e debatidos os documentários "O aborto dos outros" e "Vulva la vida, vida lá vou eu".

Participação no debate: Thais Nascimento - Banda Baby Lizz

E o lugar? Centro de Humanidades da UECE, 28/09 (quarta-feira) às 14 horas.

Ressaltando a importância do debate para o fortalecimento da consciência crítica e feminista!

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Mulheres militantes nos dias da Grande Revolução de Outubro - Alexandra Kollontai

As mulheres que participaram na Grande Revolução de Outubro – quem eram elas? Indivíduos isolados? Não, havia multidões delas; dezenas, centenas e milhares de heroínas anônimas que, marchando lado a lado com os operários e camponeses sob a Bandeira Vermelha e a palavra-de-ordem dos Sovietes, passou por cima das ruínas do czarismo rumo a um novo futuro...
Se alguém olhar para o passado, poderá vê-las, essa massa de heroínas anônimas que outubro encontrou vivendo nas cidades famintas, em aldeias empobrecidas e saqueadas pela guerra... O lenço em sua cabeça (muito raramente, até agora, um lenço vermelho), uma saia gasta, uma jaqueta de inverno remendada... Jovens e velhas, mulheres trabalhadoras e esposas de soldados camponesas e donas-de-casa das cidades pobres. Mais raramente, muito mais raramente nesses dias, secretárias e mulheres profissionais, mulheres cultas e educadas. Mas havia também mulheres da intelligentsia entre aqueles que carregavam a Bandeira Vermelha à vitória de Outubro – professoras, empregadas de escritório, jovens estudantes nas escolas e universidades, médicas. Elas marchavam alegremente, generosamente, cheias de determinação. Elas iam a qualquer parte que fossem enviadas. Para a Guerra? Elas colocavam o quepe de soldado e tornavam-se combatentes no Exército Vermelho. Se elas portassem fitas vermelhas no braço, então corriam para as estações de primeiros-socorros para ajudar o Front Vermelho contra Kerenski na Gatchina. Trabalhavam nas comunicações do exército. Trabalhavam felizes, convictas que alguma coisa significativa estava acontecendo, e que nós somos todos pequenas engrenagens na única classe revolucionária.
Nas aldeias, a mulher camponesa (seus maridos tinham sido enviados para a Guerra) tomava a terra dos proprietários e arrancava a aristocracia dos postos onde ela se alojou por séculos.
Quando alguém recorda os acontecimentos de Outubro, não vê faces individuais, mas massas. Massas sem número, como ondas de humanidade. Mas onde quer que olhem, vêem homens – em comícios, assembléias, manifestações...
Ainda não tinham certeza do que exatamente eles queriam, pelo que lutavam, mas sabiam uma coisa: não iriam continuar suportando a guerra. Nem mesmo desejavam os proprietários de terras e ricos… No ano de 1917, o grande oceano de humanidade se levanta e se agita, e a maior parte desde oceano feita de mulheres… Algum dia a historia escreverá sobre as proezas dessas heroinas anônimas da revolução, que morreram na Guerra, foram mortas pelos Brancos e amargaram incontáveis privações nos primeiros anos seguintes a revolução, mas que continuou a carregar nas costas o Estandarte Vermelho dos Poder Soviético e do comunismo.
Isto é para aquelas heroínas anôminas, que morreram para conquistar uma nova vida para a população trabalhadora durante a Grande Revolução de Outubro, para aqueles a quem a nova república agora se curva em reconhecimento assim como ao seu povo jovem, alegre e entusiástico, começando a construir as bases do socialismo.
Entretanto, fora deste mar de mulheres de lenços e toucas surradas inevitavelmente emergem as figuras daquelas a quem os historiadores devotarão atenção particular, quando, muitos anos depois, eles escreverem sobre a Grande Revolução de Outubro e seu líder, Lênin.
A primeira figura que emerge é a da fiel companheira de Lênin, Nadezhda Konstantinovna Krupskaya, vestindo seu vestido cinza liso e sempre se esforçando para permanecer em segundo plano. Ela poderia passar desapercebida por uma assembléia e colocar-se em embaixo de algum pilar, mas ele via e ouvia tudo, observando tudo o que acontecia, então ela poderia mais tarde fornecer um relato completo para Vladimir Ilich, adicionar seus próprios hábeis comentários e expor uma idéia sensata, apropriada e conveniente.
Nesses dias Nadezhda Konstantinovna não falou nas numerosas e turbulentas assembléias nas quais as pessoas giravam em torno da grande questão: os Sovietes conquistariam o poder ou não? Mas ela trabalhou incansavelmente como braço direito de Vladimir Ilich, ocasionalmente dando depoimentos e relatando críticas nas reuniões do partido. Em momentos de grande dificuldade e perigo, quando muitos camaradas firmes perderam o ânimo e sucumbiram às dúvidas, Nadezhda Konstantinovna permaneceu sempre a mesma, totalmene convencida da justiça da causa e de sua vitória certa. Ela transmitia inabalável confiança, e sua firmeza de espírito, escondia uma rara modéstia, sempre contaminava com seu ânimo todos aqueles que entravam em contato com a companheira do grande líder da Revolução de Outubro.
Outra figura que se destaca – outra leal parceira de Vladimir Ilich, uma camarada-em-armas durante os anos difíceis do trabalho clandestino, secretária do Comitê Central do Partido, Yelena Dmitriyevna Stassova. Inteligente, com uma rara precisão, e uma excepcional capacidade para o trabalho, uma rara habilidade para “apontar” as pessoas certas para o trabalho. Sua altura, sua majestosa figura poderia ter sido a primeira no Soviete no palácio Tavricheski, depois na causa de Kshesinskaya, e finalmente Smolny. Nas suas mãos segurava um caderno de anotações, enquanto em seu redor multidões de camaradas do front, trabalhadores, guardas vermelhos, membros do partido e dos Sovietes, buscando rapidamente, respostas claras ou ordens.
Stassova carregou a responsabilidade por muitos negócios importantes, mas se um camarada demonstrava necessidade ou angústia nesses dias tempestuosos, ela sempre podia auxiliar, fornecendo explicações, respostas aparentemente rudes, mas ela fazia o que estava ao seu alcance. Ela foi esmagada com trabalho, e sempre estava a seu posto. Sempre em seu posto e, no entanto, nunca empurrou para a linha de frente, nunca adiou. Ela não gostava de ser o centro das atenções. Sua preocupação não era com ela mesma, mas com a causa.
Para a nobre e estimada causa do comunismo, pela qual Yelena Stassova experimentou o exílio e a detenção nas penitenciárias do regime czarista, deixando-a com a saúde prejudicada... Em nome da causa ela era firme como aço. Mas em relação ao sofrimento de seus camaradas ela demonstrava a sensibilidade e a receptividade que só se encontram em uma mulher com um coração afetuoso e nobre.
Klavdia Nikolayeva era uma mulher trabalhadora de origem muito humilde. Ela uniu-se aos bolcheviques já em 1908, nos anos da reação, e suportou o exílio e a prisão... Em1917 ela retornou a Leningrado e se tornou a organizadora da primeira revista para as mulheres trabahadoras, Kommunistka. Ela ainda era jovem, cheia de ânimo e ansiedade. Então ela segurava firmemente o estandarte, e corajosamente declarava que as trabalhadoras, esposas de soldados e camponesas precisavam ingressar no partido. Ao trabalho, mulheres! Vamos defender os Sovietes e o Comunismo!
Ela discursava em comícios, ainda nervosa e insegura de si, mas já atraia as pessoas para segui-la. Ela era a única entre os que carreavam no ombro todas as dificuldades envolvidas na preparação do caminho a se seguir, disseminando o envolvimento das mulheres na revolução, uma daquelas que lutou em duas frentes – pelos Sovietes e o comunismo, e ao mesmo tempo para a emancipação das mulheres. Os nomes Klavdia Nikolayeva e Konkordia Samoilova, que morreram exercendo funções revolucionárias em 1921 (vítimas da cólera), são indissoluvelmente ligados aos primeiros e mais difíceis passos do movimento das trabalhadoras, particularmente em Leningrado. Konkordia Samoilova foi uma militante do partido de incomparável abnegação, excelência, uma oradora metódica que sabia ganhar os corações dos trabalhadores. Aqueles que trabalhavam ao seu lado lembrarão por por muito tempo de Konkordia Samoilova. Ela era simples nos costumes, simples na aparência, exigente na execução das decisões, severa com ela mesma e com os outros.
Particularmente notável é a gentil e encantadora figura de Inessa Armand, que foi incumbida de um trabalho partidário muito importante na preparação da Revolução de Outubro, e que depois contribuiu com muitas idéias criativas para o trabalho entre as mulheres. Com toda sua feminilidade e bondade nas maneiras, Inessa Armand era inabalável em seus convicções e capaz de defender aquilo que ela acreditava correto, nesmo quando deparada com temíveis oponentes. Depois da revolução, Inessa Armand se dedicou à organização do amplo movimento das trabalhadoras, e a conferência foi sua criação.
Um imenso trabalho foi feito por Varvara Nikolayevna Yakovleva durante os difíceis e decisivos da Revolução de Outubro em Moscou. No terreno de batalha das barricadas ela mostrou a determinação meritória de uma líder do quartel-general do partido. Muitos camaradas disseram na ocasião que sua determinação e coragem inabaláveis foi o que deu ânimo aos vacilantes e inspirou aqueles que haviam perdido suas forças. “Avante!” – para a vitória.
Assim que se recorda das mulheres que tomaram parte na Grande Revolução de Outubro, mais e mais nomes e faces surgem como mágica da memória. Poderíamos falhar ao honrar hoje a memória de Vera Slutskaya, que trabalhou de modo abnegado na preparação para a revolução e que foi morta pelos Cossacos no primeiro front Vermelho próximo a Petrogrado?
Podemos nos esquecer de Yevgenia Bosh , com seu temperamento inflamado, sempre pronta para a batalha? Ela também morreu no trabalho revolucionário.
Podemos nos omitir de mencionar aqui dois nomes intimamente ligados com a vida e a atividade de V. I. Lênin – suas duas irmãs e companheiras em armas, Anna Ilyinichna Yelizarova e Maria Ilyinichna Ulyanova?
…E a camarada Varya, das oficinas de linhas de trem em Moscou, sempre animada, sempre inquieta? E Fyodorova, trabalhadora têxtil de Leningrado, com seu rosto amável e sorridente e seu destemos quando estava lutando nas barricadas?
É impossível listar todas elas, e quantas delas permanecem desconhecidas? As heroínas da Revolução de Outubro formavam todo um exército, e embora seus nomes estejam esqucidos, sua abnegação vive em cada vitória daquela revolução, em todos os ganhos e façanhas desfrutadas pelos trabalhadores da União Soviética.
É logico e incontestável que, sem a participação das mulheres, a Revolução de Outubro não traria a Bandeira Vermelha da vitória. Glória às trabalhadoras que marcharam sob a bandeira vermelha durante a Revolução de Outubro. Glória à Revolução de Outubro que libertou as mulheres!

Diário das Mulheres, nº 11, Novembro de 1927

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A Greve das/dos professoras/es e a luta das mulheres

Estamos vivendo em Fortaleza, um momento histórico instigante: De um lado, um governo autoritário e ditatorial que insiste em não conversar com todas e todos que estão em seu pleno direito de greve e de outro um movimento grevista de professoras e professores estaduais que pede o mínimo que se pode querer: respeito à lei do piso salarial. 
Dentro do movimento, as militâncias são muitas, pensamentos diversos que hora colaboram e hora atrapalham o caminhar da greve. O horizonte final é consenso, mas os caminhos percorridos variam grandissimamente.
Qual o cenário da greve? Professoras e Professores, homens e mulheres juntos, de mãos dadas, pelos interesses da classe trabalhadora.
E é assim que tem que ser! Que se una a classe até chegarmos ao horizonte e possibilidade de uma sociedade onde de fato, sejamos potencialmente iguais, verdadeiramente livres!
É no dia a dia da luta, no cotidiano da tomada de consciência que avistamos um lugar para além da sociedade capitalista. Uma sociedade futura pela qual não esperamos, mas sim, construímos dia após dia, greve após greve, luta após luta.
É na tomada de consciência que diz ser possível existir uma sociedade diferente, emancipadora, que temos a possibilidade de fortalecer a nossa consciência feminista e lutar pelos nosso direitos também!
Hoje? A grande maioria da categoria (professoras/res) é formada por mulheres, mal remuneradas e que, em um ato de bravura e coragem decidem continuar a greve, apesar das tentativas grotescas do sindicato de findar a jornada (APEOC).
E é participando do comando de greve, dos zonais, das atividades de greve, que a mulher trabalhadora fortalece sua consciência e pode lutar pelos direitos das mulheres e de toda a classe trabalhadora!



TODO APOIO A GREVE DAS/DOS PROFESSORAS/ES ESTADUAIS DO CEARÁ!


A LUTA DAS/DOS PROFESSORAS/RES ESTADUAIS É A NOSSA LUTA!

CINE CLUBE - CH UECE - 15/09



CONVIDAMOS À TODAS E TODOS PARA O NOSSO PRIMEIRO DEBATE ABERTO DO SEMESTRE, NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ.

O Tema? Mulher e Produção na Sociedade Capitalista, fazendo uma ligação com a participação das mulheres na greve das/dos professoras/es estaduais no Ceará.

O filme? Revolução em Dagenham, sobre a greve das funcionárias da Ford em 1968

E o lugar? Centro de Humanidades da UECE, 15/09 às 14 horas.

Ressaltamos a importância do debate para o fortalecimento da consciência crítica e feminista!